O Cointelegraph Brasil chega à penúltima fase do Melhores de 2022, reconhecimento editorial da versão brasileira do Cointelegraph para os principais destaques do mercado de criptomoedas e blockchain no país ano passado.
Depois de revelar as melhores empresas blockchain – Liqi e MB Tokens – e as personalidades femininas – Solange Gueiros e Tatiana Revoredo -, chegou a vez de conhecermos os destaques masculinos do ano de 2022 – marcado pelo mercado de baixa e por uma série de crises que impactaram o mercado de forma geral.
No Brasil, não foi diferente. 2022 foi marcado por uma série de desafios para as empresas brasileiras, que sofreram com a crise econômica global e com a queda de algumas das maiores empresas de criptomoedas e blockchain do mundo, como a FTX. Vale ressaltar aqui que o mercado se portou bem no período, mesmo com cenário global adverso, e que houve empresas que se destacaram pela inovação e resiliência.
O Melhores de 2022 é uma iniciativa editorial do Cointelegraph Brasil que visa reconhecer os destaques do mercado nacional no último ano. Foram três etapas de escolha, com a participação dos jornalistas do portal e outras figuras relevantes do mercado de cripto e blockchain no Brasil. A decisão final, portanto, foi da editoria brasileira do Cointelegraph Brasil – hoje o maior portal de criptomoedas e blockchain do mundo.
Os dois escolhidos desta vez são Daniel Coquieri, CEO e fundador da Liqi, e José Artur Ribeiro, CEO da exchange brasileira Coinext.
Daniel Coquieri
Um telefonema “inusitado” do Brasil começou a mudar o norte da carreira profissional de Daniel Coquieri no início de 2017, quando o paulistano, morando desde 2016 em Miami (EUA), recebeu um convite do outro lado da linha. Na ocasião, o amigo Nilson Gouveia convidou Coquieri para ser “exportador de Bitcoin”, um convite que mudou a vida do fundador e CEO da tokenizadora brasileira Liqi, escolhido personalidade masculina do Brasil nos mercados cripto e blockchain em 2022 pelo Cointelegraph Brasil.
Dos primeiros “Bitcoins exportados” até os quase R$ 50 milhões em ativos tokenizados no ano passado pela Liqi, fundada em 2021, é possível perceber o amadurecimento do executivo nos últimos anos. A evolução da empresa fica evidente através de parcerias com o Itaú, Oliveira Trust e de outros players de peso do mercado que se tornaram sócios das operações lideradas por Daniel Coquieri, além de clientes como o banco BV e a Galápagos Capital.
O investidor, que começou comprando Bitcoin nos EUA e revendendo no Brasil quando ainda existia uma diferença (spread) no preço da criptomoeda que chegava a 25% entre os dois países, ainda fundou em 2017 a BitcoinTrade, conhecida exchange de criptomoedas brasileira vendida por Coquieri no final de 2020.
Após fundar a BitcoinTrade, o empresário revela ter percebido que o mercado nacional já estava mais bem preparado para olhar a blockchain para além das criptomoedas, o que motivou Daniel Coquieri a inaugurar a Liqi.
“Já se vão praticamente seis anos e sendo uma principal experiência uma corretora de criptomoedas, que tem muito contato com a tecnologia blockchain, não só na parte de negociação, mas na parte de depósito, de saque, de transações nas diferentes redes que a corretora dá suporte. Então, eu tenho bastante experiência nesses desafios, de lidar com essas blockchains, de comunicação, de integração e depois também com a Liqi, que é uma plataforma de tokenização agnóstica, que tem mais de seis blockchains integradas e a gente vai acumulando experiência nessas duas empreitadas, principalmente”
Os laços entre o hoje CEO da tokenizadora brasileira com as finanças e o empreendedorismo tecnológico começaram a ser construídos ainda no distante ano 2000, quando ele ingressou no banco Santander como desenvolvedo e permaneceu até 2005, quando ele decidiu montar sua primeira startup, a O2 Games. Em 2012, Coquieri fundou a Ezlike, uma plataforma de anúncios voltada ao Facebook, startup vendida em 2015 para o grupo estadunidense Gravity4.
Para Daniel Coquieri, a “blockchain representa um potencial enorme de desintermediar o mercado financeiro, o mercado de capitais, usando essa tecnologia pra remover os intermediários que, no final do dia, são um elo de confiança entre as operações entre investidor e empresa que está capitando dinheiro no mercado.” Ele completa:
“A gente tem hoje um mercado construído com uma infraestrutura de 20 anos atrás, então a gente tem a oportunidade agora de implementar uma nova infraestrutura usando a blockchain.”
O CEO da Liqi ressalta que “o Brasil tem a capacidade de se tornar um dos precursores no uso da tecnologia. Hoje a gente tem, tanto a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) quanto o Banco Central, os dois principais reguladores, dentro de suas agendas, bastante atenção e com a cabeça bem aberta sobre o uso da tecnologia. O Banco Central com o Real Digital, a CVM testando sandbox com alguns projetos de tokenização, a gente teve várias interações com a CVM no ano passado, explicando a tecnologia, explicando o impacto, o que poderia mudar nas normas através da tecnologia sem perder segurança, governança das operações no mercado de capital.”
Por outro lado, ele lembra que há diferenças entre o mercado de criptomoedas e o segmento de tokenização de ativos, o que pode representar diferentes impactos nesses mercados pelo marco regulatório. No caso do mercado cripto, Coquieri diz que as exchanges trabalham em uma “zona cinzenta porque não há uma regulamentação clara.”
Coquieri também avalia como positiva a chegada de novos atores ao mercado cripto:
“Ter só três ou quatro empresas que dominam o mercado, é ruim para o mercado, é ruim para os consumidores, então você vê o Banco Central abrindo muito a regulamentação para que muito entrantes desafiem os atuais, isso é a evolução de qualquer setor […] Eu vejo isso de foma muito positiva, a Liqi, quando começou, ela se espelhou em algumas empresas que existiam no Brasil e lá fora, tentou evoluir em cima daquilo, outras empresas vão olhar o que a gente está fazendo, vão evoluir em cima do que a gente está fazendo, isso se chama competição, é super saudável”
O CEO da Liqi também adianta que a companhia deve ampliar o uso da blockchain no mercado de capitais em 2023, tanto em volume de tokenização quanto em novos produtos, entre eles o “crypto-as-a-service”, por meio de uma infraestrutura cripto para que empresas possam habilitar compra e venda nos seus canais de criptomoedas, o que deve resultar em novas iniciativas da Liqi no mercado financeiro.
*Por Walter Barros.
José Artur Ribeiro
A jornada de José Artur Ribeiro no mundo das criptomoedas começou da mesma forma que muitos outros investidores: com surpresa e desconfiança. Após décadas atuando no mercado financeiro tradicional, com passagem em empresas como Hexagon e PwC, Ribeiro conta que tudo mudou em uma ligação que recebeu de um amigo em maio de 2017.
“Esse amigo, que estava nos Estados Unidos, me ligou para tirar algumas dúvidas tributárias. Foi quando ele mencionou o Bitcoin, e eu falei: ‘se desfaz disso, isso é dinheiro de tráfico, você vai ser preso’. Meu amigo começou a argumentar que no Vale do Silício não se falava em nada além de blockchain, e disse que precisava de ajuda para declarar o lucro de uma operação realizada com Bitcoin”, relembra.
Foi na segunda parte da conversa com seu amigo que Ribeiro passou a se interessar pelo mercado de criptomoedas. “Meu amigo disse que lucrou 15% em uma operação de 100 mil dólares. Eu perguntei em quanto tempo, e ele respondeu: ‘em 15 minutos’. Eu estava em pé, e precisei sentar para ouvir mais.”
Após ouvir o que seu amigo tinha para dizer, José Artur Ribeiro embarcou em uma jornada, que consistiu em assistir vídeos sobre Bitcoin no YouTube e ler diversos livros sobre o tema. “Como economista, eu pude ver o surgimento de uma moeda lastreada em criptografia, com escassez real. Eu não conseguia parar de pensar em Bitcoin.”
Com seu segundo filho recém-nascido, Ribeiro tomou a difícil decisão de abandonar seu cargo de executivo da Vodafone para abrir a Coinext, em abril de 2018, exchange da qual é CEO atualmente. “Avalio que escolhemos bem o timing de entrada e a estrutura da operação. Tivemos um breakeven muito rápido, em cerca de cinco meses após a abertura”, conta Ribeiro.
O ano passado, além de ser marcado pelo colapso nos preços dos criptoativos, registrou também tristes acontecimentos. O colapso do ecossistema Terra e a queda de instituições centralizadas relacionadas, a crise do fundo de hedge Three Arrows Capital e o fim da FTX foram alguns dos episódios que abalaram o mercado cripto em 2022.
Para José Artur Ribeiro, a queda nos preços foi positiva e saudável, e serviu para os operadores do ecossistema de ativos digitais entenderem a real demanda. Ele lamenta, porém, os episódios que fizeram com que investidores perdessem seus saldos.
Mesmo com as quedas nos preços e as duras perdas vividas por investidores, Ribeiro avalia que o aumento significativo das taxas de juros foi o pior acontecimento para o mercado cripto em 2022.
“Houve um desespero das autoridades monetárias para conter a inflação, causada pelas políticas adotadas durante a pandemia de Covid-19. Da mesma forma como houve uma impressão desenfreada de dinheiro, as autoridades correram para tentar lidar com o monstro da inflação. Se não fosse esse episódio, acredito que o setor de criptomoedas teria desempenhado bem em 2022. Não da mesma forma como 2021, mas a queda seria bem menos feia.”
Quanto ao colapso da FTX, o CEO da Coinext salienta que, “infelizmente”, o mercado já está acostumado com o colapso de grandes empresas. “É triste dizer, mas a FTX não é a primeira, nem será a última empresa de grande porte a falhar no mercado cripto.”
Apesar do turbulento ano de 2022, José Artur Ribeiro está otimista para 2023, especialmente para o futuro do mercado cripto no Brasil. Embora acredite que a regulamentação vai contra a natureza descentralizada do mercado cripto, Ribeiro destaca que o Brasil é um dos países onde players do mercado cripto mais têm abertura com os reguladores.
“Temos grupos dentro da Receita Federal, Banco Central e Comissão de Valores Mobiliários altamente qualificados. E mais do que qualificados, abertos e dispostos a ouvir o mercado. Eu estou muito otimista em relação ao futuro, e acredito que 2023 será um ano histórico para o mercado cripto no Brasil. É um contrassenso que um mercado descentralizado seja regulado, mas acredito que a regulamentação será pró-mercado, com mais pontos positivos do que negativos”, avalia o CEO da Coinext.
José Ribeiro também falou sobre os planos da Coinext para este ano, reforçando que a exchange deve ser mais ativa no segundo semestre, após a criação das regras para o mercado cripto.
“Temos um produto de staking pronto, mas resolvemos esperar o posicionamento regulatório para lançá-lo sem dúvidas. Criamos também uma área de ativos, com nosso fundo, cujo foco será a acumulação de mais criptomoedas. O fundo, então, não vai acompanhar o real, mas a cesta de ativos que criamos. Nos testes que realizamos, tivemos bons resultados. Também temos planos de expandir a área de tokenização, mas, assim como nos outros casos, vamos esperar um posicionamento mais claro do regulador”, concluiu o CEO da Coinext.
*Por Gino Matos.