As tarifas comerciais impostas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a países parceiros como China e União Europeia abalaram os mercados tradicionais e inverteram um padrão histórico: pela primeira vez em muito tempo, o mercado acionário norte-americano se mostrou mais volátil que o próprio Bitcoin.
De acordo com a Bloomberg, a criptomoeda — geralmente associada a fortes oscilações de preço — apresentou desempenho mais estável do que os índices S&P 500 e Nasdaq 100 ao longo dos últimos 10 pregões. Analistas apontam que esse descompasso reflete uma quebra na correlação histórica entre ativos de risco tradicionais e o Bitcoin.
Enquanto o impacto das tarifas provocava quedas expressivas nos principais índices de ações dos EUA — que registraram as maiores retrações desde março de 2020 —, o Bitcoin manteve-se relativamente estável. Segundo Vetle Lunde, chefe de pesquisa da K33, “o principal feito da semana foi o Bitcoin não ter caído mais intensamente”, mesmo após o anúncio das novas tarifas em 2 de abril.
Entre os fatores que explicam a resiliência da criptomoeda estão o nível moderado de alavancagem no mercado e um ambiente regulatório mais favorável nos EUA. Além disso, operadores adotaram estratégias conservadoras com aumento de posições de proteção no curto prazo, mas sem alteração significativa na estrutura de longo prazo.
“A volatilidade implícita aumentou à medida que os ajustes de preços se consolidaram, mas a estrutura de longo prazo continua estável, com foco no gerenciamento de risco extremo”, explicou Nikolay Karpenko, gerente da B2C2, ao site.
Ravi Doshi, da FalconX, acrescenta que o desempenho mais controlado do Bitcoin reflete também a forte liquidação do mês anterior, que reduziu a alavancagem no mercado cripto. “A baixa alavancagem ajuda a limitar movimentos bruscos, mesmo em momentos de tensão”, afirmou.
Segundo dados da K33, os prêmios dos contratos futuros de Bitcoin ficaram abaixo dos níveis observados durante os fundos do Federal Reserve, com uma taxa de 6,3%, refletindo o conservadorismo dos investidores. O interesse em aberto, por sua vez, caiu ao menor nível em 11 meses.
Operadores nos EUA também têm explorado o spread entre os futuros de Bitcoin na CME e os fundos de índice que acompanham o ativo digital. Essa estratégia, segundo especialistas, ajuda a absorver parte da volatilidade do mercado.
Para Matt Hougan, diretor da Bitwise, o cenário atual reforça o apelo do Bitcoin como alternativa para investidores em busca de estabilidade. “O desempenho recente é encorajador para os otimistas. Se a volatilidade seguir nesse ritmo, o Bitcoin poderá retomar suas máximas históricas em breve”, avaliou.
