DeSci, plataforma científica descentralizada lançada no Brasil, ganha adeptos

DeSci, plataforma científica descentralizada lançada no Brasil, ganha adeptos

O DeSci Journal, iniciativa brasileira lançada em maio de 2023 para publicação de artigos científicos de forma descentralizada, evolui para ser também uma plataforma de revistas científicas de outras organizações interessadas nesse modelo. “Viramos uma biblioteca de revistas de ciências descentralizadas”, disse ao Blocknews uma das idealizadoras do projeto que envolve outros países, Maria Goreti Freitas.

O projeto busca remunerar revisores e autores e garantir o direito autoral para quem fez a pesquisa e o texto, ao contrário do que acontece nas publicações tradicionais. O modelo da plataforma é um contraponto aos das revistas acadêmicas tradicionais em que o autor abre mão do direito autoral do texto, paga-se para ter o conteúdo publicado e quem quiser ler, paga também. Revisores também não costumam receber pelo trabalho. Tudo em troca de prestígio.

Desde dezembro, o DeSci publicou três artigos nas áreas de jogos – este de Heloísa Passos, CEO da Trexx -, engenharia e ciência do comportamento. Mas, também atraiu o interesse de publicações sobre engenharia legal, cibernética e biotecnologia. “Gostaram do fluxo que a gente tem. Numa pagina só se faz o “upload” do texto, 100% do direito autoral é do autor, a maior parte do que a plataforma recebe vai para editores e revisores. Somos uma cooperativa digital”, afirmou Maria Goreti, ela também cientista com carreira na Fiocruz.

De acordo com a cientista, o processo de publicação “ainda é bem manual”. No entanto, se o autor do artigo quiser proteger a propriedade intelectual, faz o registro na plataforma Registermaxi.io, que usa blockchain para fazer a proteção. O plano da DeSci prevê expandir o uso da tecnologia, chegando a criar tokens não-fungíveis (NFTs) dos artigos e registrar o processo de publicação em redes descentralizadas.

Para publicar um artigo inteiro na DeSci, o valor é de US$ 180 (cerca de R$ 900) e o pagamento pode ser em moeda fiat ou criptomoeda. Em publicações tradicionais, os valores podem variar da faixa de US$ 2 mil a US$ 15 mil ou até mais. Dos US$ 180, 84% são pagos para os revisores – em geral dois por artigo – e editores – em geral, um por artigo, que precisam ter uma graduação igual ou superior ao do autor. Os outros 16% ficam com a DeSci. Como o direito autoral é do autor, esse pode levantar recursos com o uso do texto em outros canais.

A DeSci está registrada em Próspera, uma cidade semi-autônoma numa zona de desenvolvimento de empregos e economia na ilha de Roatán, em Honduras. É um projeto de dois empreendedores para atrair empresas e projetos de inovação.

Um dos artigos publicados no Journal é o “Dressed for Attention?: Investigating the Link Between Outfits and Catcalling Incidents” (Vestida para Chamar Atenção?: Investigando a Relação entre Roupas e Assédios Verbais de Rua, na tradução livre). O artigo é de Maia Adar, pesquisadora de Porto Rico.

“Este foi um estudo independente conduzido pela Cosimo, uma empresa de pesquisas de temas pouco estudados cientificamente. “Em vez de tentar passar por um processo de publicação tradicional, abordamos a DeSci Journal como um veiculo novo de publicação, de baixo custo, que aceita pagamento com moedas digitais e de pensamento livre, o que poderia facilitar a publicação”, afirmou Maia.

Além disso, a DeSci tem um processo sem a burocracia das revistas acadêmicas convencionais, mesmo passando pela revisão por pares, completou. “Isso permitiu que o trabalho fosse rapidamente revisado, obtivesse retorno construtivo e fosse compartilhado com um público mais amplo”. O tempo foi de três meses a partir da submissão. Em publicações tradicionais, o prazo poderia ser o dobro.

Maia explicou que seu artigo nasceu da fato de “ouvir de algumas pessoas afirmações não comprovadas sobre as causas potenciais dos assobios. Algumas pessoas acham que não importa o que você veste, as pessoas vão te assobiar de qualquer maneira, porque se trata de intimidação. Queríamos saber se isso era verdade e achamos que não seria muito complicado descobrir”, completa. O artigo completo está em bit.ly/3WPk6Bl.

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